Vida em Verso e Prosa

Tenho escrito muitas coisas, algumas impublicáveis. Estas, são as mais interessantes.

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29 outubro 2007

Poema em Linha Reta

Poema em linha reta



Fernando Pessoa

(Álvaro de Campos)





Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.





E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.





Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...





Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,





Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?





Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?





Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

27 outubro 2007

Poema perdido

Perdi um poema
que perda, um poema!
Um poema é ontem
não tem outra vez.

Um poema é um.
Só um.
(Não há re-sentir)
Espelha só aquele
segundo de fúria
do signo em fuga
do louco que o expulsa
por puro prazer.

Que perda, um poema.
É perla
é pérola.
É mágoa
gravada na pedra.

Na cama-de-vento
camada de insônia
pétreo e aberto
o olho sangüíneo.

Perdi um poema.
Que pena.
Que perda.
Perdão.


Autoria: Izabel da Rosa Correa

06 outubro 2007

Só para os bons!

Vem
Pode vir...
A porta está aberta...
O espaço...não é muito grande
Mas cabe todas as pessoas de bom coração
As outras, as que não tem bom coração
Para estas...não é que eu bata a porta
Mas estas...estas de corações mal intencionados
Não podem ver...a nossa boa porta
Porque esta porta...quem abriu foi Deus
Nela não cabe o mal...
Então...
se você é feito de um coração bondoso
Pode entrar...
Aqui...
você só encontra o que procura
E se achar que encontrou algo que não procurava
É porque vc o fazia inconscientemente
A porta a qual me refiro
E vive aberta
É a do meu coração
Ela é aberta para você
Entrar e sair quando quiser
Mas uma vez dentro...
Por Favor, me dê um abraço...
Antes de sair...
E não se esqueça...
não se faz necessário fechar a porta
Deixe assim , aberta...
É para que continuem entrando pessoas de bom coração
E caso queira voltar...
Ela continuará aberta.

Dafne Stamato

03 outubro 2007

Folha branca

Você pode fazer o que quiser de um folha branca

Pode escrever poesias, feito Tom

Pode renunciar, feito Fernando

Pode fazer magia, feito Paulo

Ou talvez sentenciar, feito juiz

Pode se desculpar, feito culpado

Ou se declarar, feito apaixonado

Se despedir, feito Elis

Pintar, feito Dali

Embrulhar, feito padeiro

Fazer um barquinho, feito menino

Um plano, feito bandido

Um projeto, feito arquiteto

Uma carta, feito saudade

Pode até escrever bobagens, feito eu

Que não sei o que fazer com esta folha branca.



Autoria: Jocelino Freitas

Envelheci numa terça-feira

Envelheci numa terça-feira.
Acordei e estava assim.
A pele flácida e
O sangue grosso.

Eu vi pessoas nascerem,
Vi cidades nascerem.
E agora me verão morrer
As pessoas e as cidades.

Não quero que lamentem.
Talvez nem percebam
A falta do velho poeta.

Mas estarão imortalizados
Nos meus versos e nos
Meus sonetos sem sentido.


Autoria: Jocelino Freitas