Vida em Verso e Prosa

Tenho escrito muitas coisas, algumas impublicáveis. Estas, são as mais interessantes.

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12 abril 2015

Espelhos


Veja, sou eu mesmo refletido nessa coisa. Tenho certeza, é como quando se olha nas águas calmas do lago. Mas tem tanta nitidez, posso ver os detalhes do meu rosto.      
                                                       
Como esses homens diferentes conseguem fazer uma peça tão delicada? É um material fino, quebra com facilidade. Olha lá os outros  reclamando porque quebraram.

Não vou deixar que peguem o meu. Vou esconder como um tesouro em minha oca. Minha mulher passa o tempo se olhando nele. Ultimamente tem arrumado a própria pintura. Já não precisa da ajuda das outras mulheres.

Por que será que trouxeram essas coisas que chamam de espelhos? Por que usam essas vestimentas que escondem as suas coisas? Será que têm vergonha do corpo que Tupã lhes deu?

Eles chegaram nessas canoas gigantes e falam outra língua, ninguém compreende suas palavras.  Ainda bem que são simpáticos, trazem esses espelhos e tentam aprender a nossa língua. Também nos ensinam o seu jeito de falar.

Os velhos se afastaram, dizem que eles vão querer alguma coisa em troca desses espelhos. Acho que é preocupação exagerada, implicância desses velhos. Esses homens são tão bons, só querem o nosso bem.

E o que poderiam querer deste lugar que não tem nada?  Aqui só tem mato, terra, água, areia e bicho. Tem essas pedrinhas brilhantes que a gente encontra no rio, umas são transparentes, outras verdinhas, azuis, vermelhas. Eu gosto mais daquelas amarelas, que brilham como o sol. São também as preferidas dos homens dos barcos gigantes. Outro dia um deles me deu vários espelhos por uma delas.            


Mas o que tem de mais? Tem tantas pedras nos rios. O que não tem aqui é espelho. Que há de mal em trocar? Eles trazem espelhos e levam pedrinhas. Acho que saímos ganhando nessa troca. E os bobos ficam tão contentes com as simples pedrinhas que encontramos no rio.