Vida em Verso e Prosa

Tenho escrito muitas coisas, algumas impublicáveis. Estas, são as mais interessantes.

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24 janeiro 2008

Cada livro, cada volume que vês, tem alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro muda de mãos, cada vez que alguém desliza o olhar pelas suas páginas, o seu espírito cresce e torna-se forte.


o pai de Daniel em 'A Sombra do Vento', de Carlos Ruiz Zafon.

18 janeiro 2008

O Vendeiro, o Andante e a Neblina

O VENDEIRO, O ANDANTE E A NEBLINA
Victor Bass


A vendinha da esquina sua porta abaixou;
Mais um dia e trabalho o vendeiro encerrou;
Veio a noite, e com ela a neblina ondulada;
Em silêncio se aquietou...

Também veio um andante;
Carregando em sua idade a sua fone;
frente à venda se sentou;
O vendeiro a tabaquear lá na janela

O andante o notou,
Não pensando duas vezes
Na janela então chegou
Meio tímido, acanhado,

Ao vendeiro ele falou:
- Meu amigo meu bom homem
Permita lhe dizer
Que com muita fome eu estou.

O vendeiro foi lá dentro
Na janela então voltou
Ao andante que esperava
O vendeiro lhe falou:

- Eu só tenho uns pães velhos,
Foi de ontem que sobrou.

O andante agradecido ao vendeiro então contou:
- O seu pão não é tão velho, se é de ontem que sobrou,
Pois a minha fome é bem mais antiga,
Desde anteontem com essa fome estou.

10 janeiro 2008

Charles Chaplin

Sorri, quando a dor te torturar...
e a saudade atormentar...
os teus dias tristonhos, vazios...
sorri, quando tudo terminar...
quando mais nada restar...
Do teu sonho encantador...
sorri, quando o sol perder a luz...
e sentires uma cruz...
nos teus ombros cansados, doloridos...
sorri, vai mentindo a tua dor...
e a notar que tu sorris...
Todo mundo irá supor...
que és feliz!

07 janeiro 2008

Mercador de Alegrias

Vejam só, escrevi este texto no final do ano passado, antes de sofrer a dor da perda de meu grande amigo Jefferson Scheer.



O Mercador de Alegrias




Com licença, meu senhor, minha senhora, peço para entrar em sua casa. Trago um cesto de alegrias – como diz a música da viola. – Venho de longe e estou cansado. Meus pés doem, meus músculos já não são tão fortes. O tempo foi cruel comigo. Não sou um mágico, apenas alguém que persiste, que observa e anota. Que não repete erros, mas pratica novos a cada dia. Mesmo assim trago esta cesta, que não contém tristezas, só alegrias. É que não tenho forças para carregar muito peso. Então devo escolher o que levar. Poderia apresentar minhas mágoas, fracassos e insucessos. Ao invés disso trago só alegrias, que pesam menos e podem ser compartilhadas como presentes. Vejam, por exemplo, este sorriso de uma criança. Ela passava fome e morreria poucos dias depois, mas eu salvei o seu sorriso, talvez num único momento de alegria, quem sabe um espasmo, uma loucura, mas, vejam, é um sorriso lindo. Poderia ter trazido toda a sua humilde história, todo o martírio que foi a sua breve existência. Mas, convenhamos, seria muito pesado e eu não poderia trazer outros momentos de alegria como este. Então desprezei as tristezas, não as quis em meu cesto. Outros se ocuparam delas. Muitos haverão de falar de tragédias e martírios. Eu, contudo, proponho felicidade, ainda que instantânea, quase imperceptível. Proponho uma troca: busquem em suas vidas os instantes felizes e troquem comigo pelo breve sorriso dessa criança. Eu levarei com satisfação a sua alegria até minha próxima parada onde, talvez, alguém se interesse por ela e seja trocada pela felicidade de outra pessoa, que passará a ocupar seu lugar em meu cesto. Se não, seguirá comigo até que a troca seja feita. Só não me peçam para carregar suas mágoas. Elas são suas e, ademais, pesam muito. Eu não conseguiria levá-las por muito tempo. Fiquem com elas. Melhor, deixem-nas num canto qualquer e, se puderem, esqueçam-nas. Nem vocês as merecem. Façam como eu: sigam em frente levando apenas o que lhes dá alegria, o que pode ser trocado com outras pessoas. Melhor ainda, pode ser dado de presente e todos aceitam. Esqueçam as tristezas, deixem de lado as mágoas. Vivam a vida com alegria. Levem um sorriso a todos os lugares onde forem. E se minha presença em sua casa lhes ofende, meu senhor, minha senhora, saio dela com o mesmo sorriso, pela mesma porta que entrei. Dizem que é uma superstição para que eu volte. Só lhes peço que abram a porta - outra superstição -, pois ainda quero voltar com a minha cesta, num dia em que precisem de mim, um simples mercador de sorrisos que não cobra nada por seus serviços. Mesmo assim, meu senhor, minha senhora, sou o mais rico, mais afortunado de todos os mercadores, porque saio de todos os lugares aonde vou com um sorriso novo e a lembrança daqueles que deixei pelo caminho. Nada os tira de mim, nem mesmo as trocas que faço. Assim, sigo pelo mundo a sorrir, a levar às pessoas os sorrisos, as alegrias das outras pessoas. Sou próspero e feliz. Por isso lhes proponho, meu senhor, minha senhora, uma sociedade, como propus a todos os meus outros clientes. Compartilhem comigo todos os momentos felizes que têm em suas memórias. Não precisa ser somente as suas alegrias, pode ser de outras pessoas, mas que esteja em seus pensamentos. Em troca eu lhes darei todo este cesto de alegrias. Posso assegurar que meus sócios atuais estão muito felizes e seguem compartilhando os cestos que lhes dei, aumentando a cada dia o nosso lucro. Tenho certeza, meu senhor, minha senhora, que quando eu voltar também terão muitos dividendos para repartir comigo. Prometo que voltarei para entregar o seu quinhão do meu sucesso. Assim, espalhados pelo mundo, poderemos levar milhões, bilhões de sorrisos a todos os rincões deste planeta. Vamos ser felizes, vamos ser irmãos. Venham comigo ser mercadores de alegrias!

06 janeiro 2008

Pablo Neruda

"Já não se encontrarão meus olhos nos teus olhos,
já não se adoçará junto a ti a minha dor.
Mas para onde vá, levarás meus olhos,
e para onde caminhes, levarás a minha dor."

(Pablo Neruda)