APERTEM OS CINTOS
Começou a
viagem, apertem os cintos. Na verdade os cintos deveriam estar presos antes
mesmo da partida. Senhoras e senhores, esta é uma aventura pela existência
terrena, por nossa estada no planeta Terra. Muito poucos saíram daqui, no máximo
estiveram bem perto da órbita. Talvez quando mandarmos uma missão tripulada a
Marte possamos dizer que alguém realmente vive fora dos domínios terrestres.
Por enquanto nos igualamos na realidade inexorável de que nascemos da mesma
forma e que não sabemos quando nem como morreremos.
Nascemos sem
pedir e morremos sem querer, entre um e outro fato está nossa vida. Se
aproveitamos bem ou mal é questão que cada um enfrenta segundo seus próprios
valores. Alguns amealham fortunas, outros morrem na miséria, mas o fato é que
ninguém leva nada. Ao contrário, até mesmo os corpos voltam ao mundo em forma
de cinzas ou de alimento para os vermes. Vale a lei da Física que diz que na
natureza nada se cria, tudo se transforma.
Assim, se
nascemos de mãos vazias e morremos sem levar nada, concluímos que tudo pertence
ao Mundo. E se o Mundo é Deus, facilmente se chega ao entendimento de que
valemos exatamente a mesma coisa perante Ele, pois em nenhum momento chegamos a
ameaçar a sua existência. Porém, a imagem que Ele faz de nós varia segundo o
uso que fazemos dos bens que nos permite possuir.
Enquanto uma
só pessoa passar fome, ninguém poderá dizer que é justo. Esse é um pensamento
que o avaro, o egoísta e algum ateu pode se recusar a compreender. Ora, não se
sabe o que vem depois, mas sabemos bem o que acontece com quem não acumula,
quem dá ou gasta tudo o que tem. Pensar em si mesmo é regra de sobrevivência,
principalmente num mundo de sete bilhões de habitantes, que já dá sinais de escassez
de alimentos e recursos naturais.
Apertem os
cintos, viajantes, nossa nave espacial viaja a mais de quarenta mil quilômetros
por hora, vagando pelo universo numa estranha harmonia que a livra de chocar-se
com outros astros, apesar de ser um dos menores planetas de uma das menores
estrelas de uma das menores galáxias. Há nebulosas, buracos negros e uma
infinidade de mistérios que nossa compreensão não consegue alcançar. Certamente
nossa Tabela Periódica dos Elementos não contempla sequer uma pequena fração do
que possa existir lá fora. Talvez nosso universo seja apenas uma célula de um
organismo qualquer, transformando tudo o que conhecemos num microcosmo,
contrariando nossas frágeis certezas.
Apertem os
cintos os que vivem sem humildade, os que se julgam superiores, os fortes, os
altos, inteligentes e ricos, pois não valem nada mais que o mendigo que lhes
estende a mão esperando um trocado que possa aplacar sua fome e recebe, com ou
sem a ajuda, um olhar de desprezo, uma interjeição de nojo.
Fronteiras só
servem para afastar e discriminar os seres humanos. Pátrias só servem para
convencer os povos a formar exércitos para matar irmãos, jovens que se
encontram num campo de batalha e que poderiam ser bons amigos não fosse os
uniformes que ostentam, as bandeiras às quais juram fidelidade. São guerras que
não lhes foi dado declarar, tampouco a eles cabe acabar. Seu papel é lutar como
peões num tabuleiro de xadrez. Matar ou morrer é apenas um detalhe. Durante
todo o século XX não houve um só dia no qual a humanidade não vivenciasse uma
guerra em algum lugar do planeta. No século XXI já se passaram muitos anos e,
mesmo assim, não encontramos a paz.
Apertem os
cintos. Longa ou curta, nossa viagem segue turbulenta como uma montanha russa. Os
que têm fé apeguem-se a seu credo. Os que não têm, ao espírito humanitário.
Sigamos juntos e persigamos a harmonia apesar das diferenças, a tolerância
apesar do desencontro de opiniões e o amor universal acima de qualquer
ideologia.
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