Vida em Verso e Prosa

Tenho escrito muitas coisas, algumas impublicáveis. Estas, são as mais interessantes.

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21 novembro 2006

Revolta


Eu sou a voz que vem das ruas (e ninguém ouve).
Não há quem lute por meu bem (e nunca houve).
Você aprontando das suas (não há quem prove).
Consciência você não tem (ou’então não ouve).

Sou o pobre que passa fome (que nunca come).
Minha vida não tem sossego (e você some).
Nem posso dizer que sou homem (sou lobisomem).
Você não me deu um emprego (e eu com fome).

Sou doente sem atendimento (medicamento).
Imagine'o meu desespero (que atrevimento)
N' hospital, tanto sofrimento (tanto lamento),
Você não mandou o dinheiro (do orçamento).

Sou a criança desnutrida (que quer comida),
Sem escola e sem sorriso (quase sem vida).
Esquecida, mal assistida (desiludida),
Sonhando com o paraíso (que atrevida).

Sou o caboclo que espera (se desespera),
Que tem tantas necessidades (tanta esperança).
Minha vida, tanta quimera (tanta miséria).
Não encontro boa-vontade (tanta sujeira).

Eu moro num acampamento (no acostamento),
Sem nenhum pingo de esperança (que sofrimento).
Quero ir para um assentamento (com saneamento),
Quero'escola para’as crianças (fim do tormento).

Quero semente pra plantar (eu quero comprar)
E cultivar dignidade (e poder pagar).
Quero ficar no meu lugar (não quero mudar),
E não ser mais um na cidade (aqui vou ficar).


Esse poema tem uma continuação que ainda não consegui ajeitar, mas que, pela expressividade e pelo peso de suas palavras, convém acompanhar. Aí vai:



Sou favelado que espera essa nova era, qualquer milagre que me tire logo daqui.
E você aí num gabinete bem bacana, cheio de grana,
Cheio de gente que lhe chama de doutor.
E sem pudor vai se esquecendo que fui eu que coloquei você aí pra me tirar daqui.
Para fazer deste um lugar melhor pra se viver, eu e você.
Mas parece que esse posto, que esse gosto de estar aí nesse lugar, fez você esquecer que eu lhe elegi.
Não entendi quando você desapareceu e esqueceu sua promessa.
Foi bom à beça, você veio à minha casa e pareceu ser meu amigo.
Fomos à rua e protestou junto comigo, dizendo: amigo, quero um mundo novo para viver.
E você foi se esquecer. Pegou meu voto e foi morar noutro lugar.
Pra me ajudar, pra melhorar, você prometeu.
E esqueceu até meu nome.
Parece que nem me viu passando fome, morando num casebre, palafita.
E você aí, numa casa tão bonita,
Vivendo com essa gente que acredita
que isso nunca vai mudar.
Pode esperar, pois um dia essa mamata vai acabar.
Um dia você vai ter que voltar e me encarar.
Pois um dia eu também terei que voltar a outro lugar.
E nesse dia eu espero que eu tenha aprendido, de tão sofrido,
Espero que eu não tenha esquecido, seu fingido.
Espero que eu não queira mais errar.
Pois eu vou tirar você desse lugar.
Espere, um dia eu vou saber votar.

2 Comments:

Blogger Sheherazade said...

Oi, Jocelino!
Vim agradecer a sua visita lá no meu espaço e aproveito pra lhe dar as boas-vindas ao blogger.
Gostei muito do seu blog,que é muito bem elaborado e reflete a sua preocupação com as desigualdades sociais em que vive mergulhado o nosso país e só me resta lamentar que a distância física me impeça de comparecer ao lançamento do seu livro. Fico torcendo pra que o feliz evento seja um sucesso!
Parabéns!

Um grande abraço!

22 novembro, 2006 00:48  
Anonymous Anônimo said...

Achei vc no Orkut, sou o cara q perguntou pelo endereço do teu blog, é q tá digitado diferente no teu perfil).

Teu blog é bonito de se ver, vou ler tb, mas só tem uma poesia - esta - postada.

Realmente a segunda parte precisa ser ajeitada, mesmo tendo força denunciadora semelhante à primeira. Mas isso é com vc, não vou dar opinião. Quer dizer, se vc conseguisse assemelhá-la (a segunda) a uma árvore - é q já está bem parecida a um pinheiro ou coisa parecida, e como notei q vc gosta de formas...

Acho q já falei demais pra um primeiro contato.

Abraço.

10 dezembro, 2006 20:37  

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